3.4.17

A few reasons why

Vamos falar sobre a série 13 reasons why? Vamos sim.
Se você não ouviu falar, a série é baseada no livro de mesmo nome e conta a história de Clay, um menino que recebe umas fitas cacete. Nas fitas, gravadas por Hannah Baker, há os 13 motivos (ou treze pessoas) pelo qual ela se matou.

Eu li esse livro em 2015 e não foi um livro que mudou minha vida. Pra ser sincera, estou acostumada a estar do lado que vê/sofre os bullyings e não faz, então para mim o livro era uma repetição e tentava explicar motivos que para mim, não precisavam ser explicados.

A série saiu e o twitter pirou, é claro. A hashtag #NãoSejaUmMotivo bombou. Todos falaram frases bonitas, tipo "preste atenção nas pessoas ao seu redor", "não faça bullying", "cuide de quem você ama". Todos escreveram a razão de você talvez ser um motivo, sem é claro dizer "ops, já fiz isso, vou tentar melhorar". Na internet, somos todos lindos. É sim importante fazer todas as coisas acima. Só que se você precisa de uma hashtag pra te lembrar disso, talvez o problema seja a maneira como você pensa. Aliás, se você precisa de uma SÉRIE que te diga "hey, não seja babaca", você é parte do problema.

E eu gostei da série. Acho que trata a vida de uma maneira bem real. Pessoas fazem fofocas que talvez machuquem outras pessoas que acabam machucando a si mesmas. Pessoas colocam a culpa das coisas em outras pessoas, porquê ela precisa ser de alguém.

Mas uma das coisas que me incomoda nessa série, e no livro, e talvez na hashtag é pensar que as pessoas são motivos.
Sim, situações e abusos levam pessoas a cometer suicídio. Isso é fato e eu não quero relativizar abusos. Se você for babaca e abusivo você vai machucar outra pessoa e talvez ela cometa suicídio.

Só que no fim, a própria pessoa pois fim a própria vida. Talvez ela não tenha buscado ajuda, por falta de oportunidade ou por não ter conseguido. As vezes é fisicamente impossível. Talvez ela tenha sofrido abusos que a levaram a tomar aquela decisão.

Depressão é uma doença e abusos podem levar a ela. Mas é uma doença e nem sempre nós, pessoas que não são treinadas para detectá-la, conseguimos reconhecer os sinais. E para mim apontar o dedo e dizer "a culpa é sua que ela se matou" é... Fácil? E cruel.

Ninguém aponta o dedo falando "você não descobriu que ele tinha cancer alguns meses atrás!". E depressão não pode ser detectada num exame de sangue.

Talvez eu pense desse jeito por conhecer pessoas que tiraram a própria vida e me perguntar continuamente se tinha algo que eu poderia ter feito. A culpa e os pensamentos te remoem, mesmo quando a culpa não é sua. Aliás "não foi minha culpa" é uma coisa que demora muito tempo para você assimilar.

É claro que ser babaca pode te fazer levar uma parte da culpa. Se você estupra uma moça, ignora seus pedidos de socorro e a ridiculariza, uma parte da culpa é sua sim. Só que para mim, uma pessoa assim não vai mudar tão facilmente. Na grande maioria dos casos, uma pessoa que pensa que estuprar alguém é ok não vai se arrepender porque ela se matou depois.

E aí a culpa acaba caindo nas pessoas que não tem nenhuma. Em quem não viu os sinais. Em uma pessoa que acabou passando tempo demais com o namorado e negligenciou a amiga. Em outra pessoa que não soube como ajudar. Em um professor que atolado de trabalho não conseguiu dar a ajuda necessária.

A pessoa que tem culpa vai provavelmente arrumar desculpas na sua cabeça. Talvez ela tente se redimir (acho improvável).
E a pessoa que não tem culpa vai ser arrastada pra aquele buraquinho, pensando no que poderia fazer de diferente. A resposta é: quase nada. E mesmo que tivesse, o que você pode fazer agora? Apenas tentar melhorar da próxima vez.

Moral da história:
Não seja babaca.
Não faça bullying.
Preste atenção nos sinais.
Mas se lembre que você raramente poderia ter feito alguma coisa. A culpa não é sua.

Um comentário

  1. eu queria muito escrever sobre essa série, mas depois de todos os triggers que vi não sei se terei condições de ver. mas queria demais ler alguém dizendo isso que você disse!!! fiquei bastante irritada com o pessoal nessa onda de 'não seja um porque', porque embora alguns suicídios sejam premeditados e tenham origem numa perseguição/bullying, a maioria não se encaixa nesse molde. isso sem considerar que no final, a decisão de cometer suicídio é sempre da pessoa - tem tanta gente que passa por situações horríveis, histórias tensíssimas e escolhe viver apesar de tudo. não é uma questão de culpabilizar a vítima de bullying ou tirar a responsabilidade de gente que estraga a vida dos outros, mas acho que a série falha de forma muito feia em ressaltar que no final, não importa a atitude das pessoas ao redor, a atenção precisa estar na pessoa que sofre e é ela que precisa se cuidar, ainda que as outras pessoas sejam umas bosta. :***

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