6.4.17

Lidos: Março (2017)

Em Março, tem o projeto bem legal de mulheres para ler, onde se dá preferencia e se discute mais sobre autoras. Decidi fazer uma pequena participação escolhendo apenas mulheres para ler durante esse mês, o que não é muito minha cara (normalmente me baseio no meu humor pra escolher a próxima leitura, por isso que nem tenho TBR).



#18 | A Hora da Estrela | Clarisse Lispector | PT | ★★★☆☆
Pois a vida é assim: aperta-se o botão e a vida acende. Só que ela não sabia qual era o botão de acender. Nem se dava conta que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.
A primeira mulher de março lida foi ninguém mais que Clarisse Lispector. Eu me lembro de quando mais nova, tentei ler esse livro, mas não consegui. Achei a linguagem extremamente chata de uma maneira que só quem já esteve com esse livro aberto consegue sentir.
A história acompanha Macabéa, uma moça nordestina que mora no Rio de Janeiro e tem sua história contada pela visão do narrador Rodrigo S.M, que adora dar seu pitaco na história da moça, que é sozinha no mundo e desprovida de qualquer atributos.
Tudo é bem triste, mas nunca se mostra desse jeito. Os fatos são dados no meio da narrativa e reflexões do narrador sobre si  mesmo ou sobre a personagem. O fato é que é difícil ler esse livro, talvez não seja o melhor livro da Clarisse a ter começado.
Macabéa desperta aquele sentimento de dó e tristeza na gente, de uma pessoa ignorante e pobre, não só de dinheiro.
É até difícil por em palavras o que sinto por esse livro. Gosto muito de Macabéa, mas tenho uma dificuldade imensa em ler esse livro por causa do narrador.
Alguém tem uma recomendação de livro da Clarisse Lispector?

#19 | A Mansão HollowAgatha Christie | PT | ★★★☆☆
- É você que não percebe o que significa, Edward! Nós passamos a tarde revivendo o passado.
- O passado, às vezes, é um bom lugar para se viver.
- Não se pode voltar atrás. É a única coisa que não se pode fazer... Voltar atrás.
Esse era o último livro de um box da Agatha Christie que eu tinha e antes disso li apenas E não sobrou nenhum, Os Elefantes não esquecem e Morte na Mesopotâmia. Acho que esse é meu segundo favorito, atrás apenas do E não sobrou nenhum.
A história é um pouco diferente da narrativa "normal" de uma história de mistério, passando muitas páginas com a introdução dos personagens e contanto a narrativa deles até a hora do crime. Achei sensacional, pois ficamos conhecendo um pouco mais os personagens e acabamos nos envolvendo um pouco mais com eles do que apenas pessoas apresentadas depois de um crime.
Eu não sou muito confiável para julgar livros de detetive, pois a cada virada de página eu mudo de ideia sobre a resolução e do culpado. Aqui não foi diferente. Aliás, achei muito surpreendente, mas o final acabou sendo um pouco decepcionante. Ainda assim, recomendo bastante.
A lista de personagens e suspeitos é longa, então as vezes acabava me confundindo um pouco em quem era quem, qual era o passado dele, enfim. Também temos alguns capítulos do ponto de vista do sr. Poirot, um dos detetives mais conhecidos da autora.
Acho que livros de mistério/policiais são legais, mas fico me perguntando se vale a pena reler.

#20 | The Long Way To a Small Angry PlanetBecky Chambers | EN | ★★★★★
“The truth is, Rosemary, that you are capable of anything. Good or bad. You always have been, and you always will be. Given the right push, you, too, could do horrible things. That darkness exists within all of us. You think every soldier who picked up a cutter gun was a bad person? No. She was just doing what the soldier next to her was doing, who was doing what the soldier next to her was doing, and so on and so on. And I bet most of them — not all, but most — who made it through the war spent a long time after trying to understand what they’d done. Wondering how they ever could have done it in the first place. Wondering when killing became so comfortable.”
Alguns anos atrás, Becky Chambers precisou decidir entre escrever seu livro e colocar um teto sobre a cabeça. Ela acabou recorrendo ao kickstarter e algumas pessoas ajudaram-a a escrever o livro sem ficar sem casa. E só posso agradecer a essas pessoas.
Eu amo ficção cientifica, principalmente viagens espaciais. Quando eu era mais nova, meu sonho era ser astronauta. E eu já li bastante coisa do gênero e vi muitos filmes e séries também. E eu nunca li nada como esse livro.
A história acompanha a nave Wayfarer. Apesar da sinopse oficial falar que acompanhamos uma moça em especifico, uma das pessoas que mora nessa nave, todos os tripulantes tem seu espaço no livro. A Rosemary é uma moça com um passado conturbado e deixa tudo para trás e se junta a nave de perfuração de túneis espaciais num trabalho administrativo.
Lá ela conhece Kizzy e Jenkins, os dois técnicos humanos maravilhosos que cuidam da parte mecânica da nave, Sissix, a pilota reptiliana, o capitão Ashby e Corbin, que não é tão popular assim, mas ganhou meu coraçãozinho depois, e que também são humanos e até o Dr Chef (médico e cozinheiro) e Ohan de outras raças completamente diferentes. E também a lindíssima Lovey, o sistema de inteligencia artificial dessa nave, que acaba sendo uma "pessoa" e personagem.
Uma das coisas que mais irritam em ficção cientifica é quando alienígenas são retratados: parecidos com humanos, com quase os  mesmos costumes, mesmas linguagens e culturas similares. São humanos, mas verdes.
Esse livro passa longe disso. Cada raça tem uma aparência, uma cultura completamente diferente que vem acompanhada de um jeito de pensar diferente. É tão complexo que não tem como descrever de outra maneira senão genial. Acaba sendo até um pouco difícil visualizar na sua mente como cada um se parece, o que me faz pensar que uma adaptação para TV pela netflix com quinze episódios e roteiro escrito por pela mesmo (hahaha, só aceito assim, não estraguem livros bons) seria muito legal.
Eles seguem pelo espaço na missão de encontrar o pequeno planeta raivoso dos Torami Ha, uma raça que acabou de ser aceita no conselho da galáxia e não tem a melhor das personalidades (do nosso ponto de vista).
A história em si é bem simples porque ela foca nas pessoas que vivem naquela nave.
Vemos diversas situações e como cada um reage a elas. Como os pensamentos são diferentes e como é difícil para os dois lados. E apesar de se tratar de uma narrativa espacial, cheia de formas diferentes e raças estranhas, podemos muito bem tirar lições para nossa vida e coisas que acontecem atualmente.
Também acompanhamos como é quando pessoas de culturas e histórias tão diferentes se comportam quando são obrigadas a ficarem num espaço pequeno e convivendo umas com as outras.
É o melhor livro que eu li esse ano e um dos melhores que li na vida. Com certeza o melhor de ficção cientifica.



#21 | The Song RisingSamantha Shannon | EN | ★★★★☆
“Never allow yourself to believe you should be silent.”
Outra mulher que eu estava louca para ler era a Samantha Shannon! Eu já li os dois primeiros livros da série The Bone Season e gostei bastante. O terceiro foi lançado esse mês e eu paguei super caro para poder manter a capa original (chorando litros pelo meu dinheiro). Pelo menos é uma edição linda e autografada <3.
O terceiro livro, The Song Rising, começa pouco tempo após o segundo terminar. Nele, acompanhamos a Paige como nova Underqueen de Londres. Com Scion apertando o cerco com novos sensores e tendo traído seu mentor, Jaxon, Paige começa a perceber que não é tão fácil mandar em todo um sindicato.
Primeiro: amei a Paige nesse livro. Pra ser sincera, fazem quase dois anos que eu li o segundo livro, então a história não estava super fresca na minha cabeça. Só que acho que mesmo assim, a personagem principal teve mais maturidade, tramou planos melhores e cresceu como pessoa nesse livro.
Os personagens secundários continuam e aumentam (foi difícil lembrar quem é quem). Nessa situação sempre se corre o risco de criar personagem demais e personalidades de menos. Acho que o Nick ainda me irrita um pouco, mas a Eliza compensou por ele. O Warden continua um mistério. Por ser uma série que vai ter sete livros, acho que a autora pensou a frente, então dá para colocar pistas agora que ela só vai resgatar nos próximos livros.
Outra coisa que gostei muito é o andar da história. As vezes os livros começam a ficar enrolados, mas aqui mal dava tempo de pensar e mil coisas aconteciam. Gostei de conhecer também um pouco mais do mundo que a autora construiu.
O final não foi tão OH MEU DEUS E AGORA como o do segundo, mas deixou uma ponta muito boa para os próximos, que para mim parecem que vão ser os melhores.

#22 | A Cor Púrpura | Alice Walker | PT | ★★★★★
De qualquer maneira, ele falou, você sabe como é. Você faz uma pergunta pra você mesmo e ela leva você a fazer mais quinze. Eu comecei a imaginar por que a gente precisa de amor. Por que a gente sofre. Por que a gente é preto. Por que tem homem e tem mulher. De onde as criança vêm mesmo. Num demorou muito pra discubri queu quase num sabia nada. E se você é preto ou é um homem ou uma mulher ou uma moita isso num quer dizer nada se você num pergunta por que é que você tá aqui, pronto.
No começo do ano eu li "A Vida Secreta das Abelhas", que eu gostei bastante. Minha única reclamação sobre ele foi a questão de mostrar a vida de negros num período difícil de segregação racial sem nunca realmente contar isso do ponto de vista das pessoas negras.
Então A Cor Púrpura, um livro que eu roubei dos antigos da minha mãe (a edição é de 1982 e está beeem acabadinha. Ainda assim é tão bom ver livros usados!), veio para completar essa visão de uma maneira muito bonita.
A história é toda contada por meio de cartas, num primeiro momento de nossa protagonista, Celie para Deus e narra desde sua adolescência, sofrendo abusos horríveis por parte do pai, da separação dela e de sua irmã, de seu casamento com um homem horrível e da sua vida, pouco a pouco.
Celie é pobre e analfabeta (as vezes é até difícil ler, pois algumas palavras são escritas juntas e seus pensamentos são bem confusos). Ela se casa com um homem que abusa dela e cuida dos filhos dele, aturando até quando a ex-paixão e amante dele, Doci Avery (acho que na edição nova está Shug. Gostei mais de Doci, já que faz sentido o apelido) fica doente e mora com eles por um tempo.
Vemos a história de desenvolver, os filhos desse homem crescendo e se tornando parte da vida de Celie, a amizade e amor que ela nutre por Doci, a injustiça do preconceito racial e tanta coisa mais.
Acho que esse livro começa triste. E até mesmo em algumas partes no meio, tudo é muito difícil e te deixa com um peso no peito muito grande. A história dela é tão pesada e horrível que de vez em quando dá vontade de desistir.
Só que eu diria que ela também é uma história de perdão e reconciliação e vitória. Do tipo que termina com um sorriso discreto no rosto e te deixa muito feliz por ter lido aquilo.
Fiquei interessada em ver o filme. 

#23 | The First Fifteen Lives of Harry August | Claire North | EN | ★★★★★
“Time was simple, is simple. We can divide it into simple parts, measure it, arrange dinner by it, drink whisky to its passage. We can mathematically deploy it, use it to express ideas about the observable universe, and yet if asked to explain it in simple language to a child–in simple language which is not deceit, of course–we are powerless. The most it ever seems we know how to do with time is to waste it.”
Esse foi um livro difícil de ler. Fazia tempo que eu não encontrava um livro que a linguagem era mais complicadinha e eu precisava de mais tempo para ler. O que não quer dizer que eu não gostei desse livro, de maneira alguma.
A história segue nosso protagonista Harry August, uma pessoa que, quando morre, volta para o começo, o seu nascimento, com todo o conhecimento de suas vidas passadas. Então ele fica nesse ciclo, nascer, morrer, nascer mais uma vez, até que uma moça encontra ele e passa uma mensagem: O mundo está acabando e ele precisa ajudar a salvá-lo.
Acho que a narrativa desse livro é um ponto alto, mas também é muito complicada. Acompanhamos a história de quase todas as vidas do Harry, quase sempre bem detalhadas, mas elas não seguem uma ordem cronológica, quase sempre ele vai e volta entre as vidas enquanto ele conta. Lá pro meio do livro a narrativa fica mais linear e não tão confusa, mas tem um flashback ocasional.
O Harry não é nada econômico com as palavras, ele descreve, enrola, vai e volta nos pensamentos, o que pode ser meio complicado de entender. Normalmente eu sou uma pessoa que lê muito rápido, mas nesse caso eu demorava para ler muito mais. Os capítulos também não tem uma estrutura, uns são bem longos enquanto uns tem apenas uma página. De toda maneira, a história é tão boa que você nem percebe esses detalhes, ou se percebe, não deixa que eles atrapalhem.
O inglês aqui é bem mais denso e avançado do que em outros livros. A Claire North é bem novinha, mas com certeza tem muito talento para a escrita. Em grande parte das vezes que eu fechava o livro eu pensava no quão boa era a maneira como tudo era formado: histórias, frases, narrativa. Gostei muito mesmo e invejei essa moça. Vou procurar as outras coisas escritas por ela.
Esse livro foi lançado pela Bertrand aqui no Brasil faz pouco tempo e a capa é lindíssima! recomendo muito esse livro para todos.


Sobre o projeto: foi muito legal e ao mesmo tempo um pouco limitante. Percebi que tenho muitos livros escritos por homens e o número de mulheres é bem baixo. Pessoalmente não acho que mulheres escrevam melhor/pior do que homens em certos assuntos/gêneros. Pra mim isso varia mais de pessoa para pessoa do que de gênero (o que acaba com os estereótipos "homem não sabe escrever romance/mulher não sabe escrever fantasia".
O mais difícil para mim foi escolher baseado em um limitador. Normalmente eu leio o que eu quero ler, desisto no meio e parto para outra, retorno livros abandonados. Enfim. Foi estranho olhar na estante e falar "não posso ler esse".
Ainda sim foi interessante pensar que eu tenho essa desigualdade na minha estante.
Em outro assunto: estou seis livros adiantada para cumprir minha meta de 70 livros esse ano, segundo o goodreads. YEY.

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