22.2.17

On writing

Antes de começar a buscar sobre a escrita, eu não tinha ideia de como o processo seria. Aliás, até tinha: a mesma fantasia que muitas pessoas tem: um escritor, sentado em frente ao computador (ou olhando para um caderno ou maquina de escrever, depende do quão romântica é essa fantasia), um copo de café ao lado, óculos caídos no meio do nariz, cabelos ligeiramente desarrumados e palavras sendo digitadas, ou escritas, furiosamente, uma atrás da outra. A musa de inspiração não permitia que o escritor parasse. No final, tudo seria impresso e com uma caneta vermelha poucas alterações seriam feitas: uma palavra errada aqui, uma frase melhor construída ali, etc.

Meu primeiro contato foi quase isso: sentei e escrevi, escrevi, escrevi. Tomei doses cavalares de café, enquanto ouvia uma música baixa no fundo. Fui dormir, satisfeita comigo mesma e sonhei com noites de autógrafos, festas com outros escritores, conversas presunçosas... Então eu acordei. E quando acordei e reli, quase quis jogar as páginas, o computador e até a mim mesma dentro do lixo.

Era tudo tão cru. As palavras eram estúpidas demais, meus personagens não faziam sentido, as frases pareciam escritas por uma criança de cinco anos e eu me convenci que eu não poderia ser uma escritora. Eu não tinha o talento.

Ah, talento. Depois de algumas (muitas) horas de conversa na minha cabeça, e muitos anos a mais, me convenci que talento é quase um conto da carochinha. Ele está na mesma prateleira dos unicórnios, alienígenas e ornitorrincos: Até existe de vez quando, num tempo muito longínquo, descrito em livros antigos como criaturas místicas e isoladas.

E então eu desisti.

Em 2014, eu acho, participei do nanowrimo pela primeira vez. Infelizmente minha história era quase uma cópia versão herbert richards de livros que eu amava muito. E eu desisti nas 42 mil palavras, mais uma vez dizendo para mim mesma que eu não conseguia.

Em 2015 eu escrevi meu primeiro livro. Ok, não exatamente meu, era em conjunto com um outras pessoas. E não era um livro, era uma monografia. E ainda assim, eu escrevi. Eu provei a mim mesma que conseguia terminar de escrever alguma coisa.

Em 2016 eu participei do nanowrimo (e documentei tudo aqui) e dessa vez eu ganhei. A sensação foi um pouco engraçada: é como se você ganhasse uma maratona, mas sem a medalha e fotos ou reconhecimento. Mas eu ganhei e isso foi importante para mim, pois eu provei que conseguia escrever uma história própria, sem ajuda das outras pessoas. E nesse processo, meu entendimento sobre a escrita e todo aquele cenário mudou um pouco.

A escrita já não é uma coisa feita só por pessoas talentosas. Como qualquer coisa na vida, você precisa estudar e dedicar uma grande parte do seu tempo em fazer algo que não é tão legal assim para conseguir fazer a coisa realmente legal de uma maneira positiva. Você não começa correndo a são silvestre e talvez você até sobreviva uma vez, mas isso não faz de você um corredor profissional.

Então eu comecei o processo não tão legal disso. Eu comecei a estudar. Li o livro do Stephen King e não achei tão bom assim, então li outros e outros. Li incontáveis posts de escritores em seus blogs, li sobre construção de personagem, li sobre montagem de narrativas e pesquisei sobre temas obscuros que talvez tenham me colocado na listinha especial da segurança nacional.

Depois que o nanowrimo acabou, me comprometi a revisar e continuar escrevendo.

E eu abandonei meu projeto.

Uma parte foi preguiça mesmo e as desculpas foram se acumulando: eu queria descansar um pouco e depois eu estava sem tempo e depois meu computador quebrou. E a outra parte era o medo, de abrir aquele documento e ser igual quando eu era mais nova e descobrir que tudo tinha ficado realmente horrível e um mês tinha sido jogado no lixo.

Se tem uma coisa que o processo da escrita é: cheio de dúvidas. Ouso dizer que a parte mais difícil é calar seu critico interior que gosta de te lembrar o quanto as outras pessoas são melhores do que você e como ninguém gostaria de ler sua história. A crítica que nem existe de verdade é uma das coisas mais difíceis que você precisa superar para continuar escrevendo. Claro que auto critica é importante para que sua escrita seja boa e você não tome decisões erradas e saiba quando cortar uma coisa errada, mas a crítica sem motivo é bem difícil de identificar e afastar.

Eu coloquei no meu habit tracker do bullet journal "escrever". E cada dia que eu escrevo eu marco um xiszinho lá e fico mais perto de fazer tudo mais uma vez. Para ser sincera, eu não gostei muito das primeiras cenas que eu escrevi. Quer dizer, a história está correta e seguindo seu rumo, mas as palavras não são certas, não mais.

O que é ao mesmo tempo desesperador, mas também é muito bom, afinal eu sei que eu posso fazer melhor que aquilo.

Então, querido leitor, eu cometi um erro: eu mostrei minha história para alguém. Não que isso seja um erro horrível, mas eu não sou do tipo que discute muito sobre isso. Até mesmo meu namorado sabe que eu escrevi alguma coisa no nanowrimo, mas não sabe nada sobre isso.

Pra ser sincera, eu esperava que meu amigo me falasse "isso é a melhor coisa que eu já li!" e eu ficaria feliz, sorrindo e sentaria para escrever certa de que estava no caminho correto. Só que ele não falou isso, é claro. Me deixei levar pelas minhas fantasias outra vez. Ele só disse que imprimiu o texto e tinha várias dicas para me dar.

No mesmo momento meu coração apertou e pensei: sou uma farsa. E ele não chegou a me dar as dicas, já que não deu tempo de conversar, mas isso me congelou. Ainda assim, no dia seguinte eu abri meu documento e escrevi.

Porquê é isso que acontece, e demorou algum tempo para que eu percebesse, mas eu percebi: eu preciso contar essa história. Eu preciso provar para mim mesma que eu consigo. E conselhos e dicas são bem vidas. Vou continuar a ler sobre a escrita e continuar estudando. E talvez um dia eu publique um livro. Ou não. E a vida continua.

Essa é a real sobre a escrita: ela é dolorida e cansativa, nada glamurosa e muitas vezes solitária. Você precisa esquecer sobre as fantasias que tem e precisa dar duro, mesmo (ou principalmente) quando você pensa em desistir.

We are writers and we keep on writing.

Um comentário

  1. Sabe, eu não escrevo muito, tirando os poucos parágrafos que rabisco para desabafar ou as postagens do blog, eu só escrevo "de verdade" muito raramente. Já tive algumas ideias que pareceram muito legais na minha cabeça, o problema é que eu sempre sabia como começar e como terminar, mas nunca como desenvolver o enredo.
    Comigo acontece da mesma forma que você descreveu no início da postagem: escrevo, acho tudo muito lindo e depois no outro dia releio e desisto do projeto. É mais difícil do que parece continuar os projetos, né? Mas, enfim, gostei do seu ponto de vista de continuar escrevendo mesmo com os "poréns" e dúvidas. Concordo contigo de que tudo precisa de tempo e estudo, não é apenas com "talento" que se chega a um bom resultado...

    Beijos.

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